JUSCELINO FALOU E DISSE

Amontoado de idéias, frases e observações do intelectual lajedense, sobre o cotidiano, a política, o sexo e a cultura.

segunda-feira, março 27, 2006



Discurso do Sexo
Published Terça-feira, Março 21 by Sesti

Que homem nunca ouviu uma mulher discursar sobre sua complexa sexualidade? Quem nunca teve o desprazer de escutar algo do tipo: possuímos sabe-se lá quantas zonas erógenas; nosso orgasmo é mais intenso e é múltiplo!; a mulher é uma intrincada máquina que precisa ser estudada, desvendada aos poucos e nos mínimos detalhes.
E continuam: porque um homem que não descobre os segredos da mulher está perdendo um grande prazer, ele pode ter mais da mulher se...
Isso é horrível. Sempre que escuto algo do tipo eu mostro o meu relógio de pulso. Aqui ó! Tá vendo? Ele é cheio de botões, funções, programas, cronômetros mil! E sabe do quê mais? Eu não estou nem aí. Ele me diz as horas. É tudo que eu preciso. Eu nem mexo nos botões, não aperto em nada. Olho para o relógio e ele me mostra o horário.
Muitas mulheres compensam a falta de orgasmo com o patético fetiche de dizer que, se tivessem um desses tais orgasmos, ele seria múltiplo. Gabam-se de sua complexidade porque não a conhecem. Ninguém se gaba daquilo que sabe. O único idiota que se orgulha de ter o Discurso do Método na estante é aquele que nunca leu o Discurso do Método. Diz-se que o homem perde ao não desvendar a sexualidade feminina. Bem, diga ao cara da britadeira ali da esquina que ele seria um cara da britadeira muito melhor se lesse Discurso do Método. Mas ele não precisa de Descartes. Ele sabe fazer o serviço dele; sabe usar seu instrumento.
Todo o louvor da mulher em relação a sua complexa sexualidade feminina é, na verdade, um grito desesperado por ajuda. É, sim. Um gutural urro que, traduzido em linguagem humana, significa mais ou menos: pelo amor de Deus, não sei o que fazer com todas essas zonas erógenas! Sou uma náufraga perdida num mar de baboseira cartesiana! Me come! Seja o meu Cambridge Companion to Whores.
Compreensível. A mulher é um videocassete. Lembram do videocassete? Ela é igual.
Se você pusesse a fita e apertasse Play, o negócio funcionava. Se você inventava de se lançar na tarefa de programar alguma coisa, se arrependia de ter nascido. Vocês lembram como era difícil programar um videocassete? Além do mais, existia sempre a impossibilidade de prever os horários na grade de programação: se o programa das 11 da manhã atrasava, avacalhava tudo até o Corujão. A mulher é a mesma coisa. A menstruação desconcerta qualquer programação. Menstruação é como um programa ao vivo, sempre atrasa e gera uma expectativa que estraga tudo. Restringindo-se ao básico Play ou Stop, não haverá problema. Se estiver tudo ok, mexa na mulher como se apertasse no Play, para fazer a coisa criar vida; mas se sentir que o clima está pesado, Stop. Isso é tudo. O resto é perfumaria. O próprio REC, ou ménage à trois, era coisa esporádica, pois não era qualquer um que conseguia atacar em dois fronts ao mesmo tempo.
O orgasmo múltiplo e as infinitas zonas erógenas da mulher são quimeras, espécies de comunismo sexual. A idéia de possuir vários pontos capazes de gerar prazer, cada qual com suas peculiaridades e potencialidades, é tentadora, mas não vinga. Não passa de uma grandiloqüente promessa de coletividade, mais útil para impressionar adolescentes do que para qualquer outra coisa. Imaginar que o calcanhar vai gerar uma onda sensual capaz de catapultar a mulher até os confins do deleite é como imaginar o periférico presidente da CUT como um ser capaz de governar o país. Um orgasmo a partir do sovaco é como uma tese de mestrado escrita com a bunda. (Já um orgasmo com a bunda e uma tese de mestrado com o sovaco, eu os acho plausíveis.) Há matos de onde, mesmo chamando e chamando, não sairá cachorro algum.
Fazer o quê? É cruel, mas a festa só fica legal se nem todos puderem entrar, e as filas às portas das boates comprovam o que eu digo. No homem a coisa é mais clara. Imagine todo o corpo do homem como uma grande fila para ser pênis. Nem tudo é pênis, and that’s the whole point. Os homens são realistas, não saem espalhando flyers pela cidade, convidando cotovelos e panturrilhas para uma festa na qual serão invariavelmente barrados. Eles não entram em dúvidas cartesianas, não duvidam dos sentidos. Bem, se o negócio levantou é melhor usá-lo, é o que pensam. Não há cogito ergo sum. Homem não cogita, ele ergue. As mulheres compraram a idéia do tal René e agora se encontram perdidas e cogitando dúvidas estéreis.
Pior para elas. As zonas tradicionais são, na prática, as mantenedoras de todo o histórico sensual. O que nos chegou é o que realmente funciona. Chamem de aristocracia hereditária, sangue azul... O socialismo e a democracia, no sexo, não funcionam. Se todos governam, ninguém governa. Se toda zona é zona erógena, não há zona erógena e a mulher teria um orgasmo ao pentear o cabelo. Milênios de seleção natural nos mostram que alguns pontos prestam, outros não. Atenhamo-nos aos bons exemplos, por favor.